segunda-feira, 3 de junho de 2013

Invasão no morro


Quando tem invasão no morro
o primeiro sinal é o tiro
busca fogo de artifício
quem nunca viu barulho de bala

A gente corre pra dentro da sala
e agacha rente à parede
teme até os raios de luz
que perfuram a nossa janela

Pede a deus por quem é querido 
Pai, Filho, o santo espírito, ave 
Maria sobe a ladeira 
cheia de pressa.

O coração em retalhos
rogando pela vida inteira
A viatura atravessa 
o painel de neon.

E quando a batida se acalma, 
na terra no céu e no peito,
corpos deitados sem leito
colorem o chão.

Da linha do muro florescem 
cabeças pelas vielas
ao canto enferrujado
do portão.

A rua se movimenta
em cada degrau se enfrenta
o susto da morte
da sorte que reina

Avisto um homem de preto
armado parado na esquina
Indago se posso
seguir minha sina

Ele me antecipa – tranquilo.
se assusta com o próprio brilho
do fuzil a cruz pregada
em sua mão.

Retorna contrariado
ao posto que policia.
E como se houvesse pecado
lamenta: um bom dia.



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