segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Morfologia sentimental

Seu nome é um excesso
de consoantes,
que de nada mais servem
além de abraçar um "ó".
Para encerrá-lo, introduzi-lo
bastariam duas ― são cinco!
Seu nome é coisa de gringo.

Penso que afeta a personalidade
essa história de "dáblios" e "erres" e "pês".
Se não sei como ler
por detrás do agá mudo,
como é que traduzo você?

Nem me isento dessa lógica:
frente a seu poço de consoantes,
eu sou um mar de vogais.
Você pode zombar do meu acento agudo
do hiato, e dos as sentimentais
― não me importo.

Eu queria,
feito uma escultora sem pena, entalhar
cada ar, a ranhura de seus fonemas, se eu pudesse,
seus "esses" soturnos que mais parecem
floreios, para ter você consonante,
aberto ao meio.

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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Mágoa

Quanto tempo uma palavra
dura?
Desdita,
se apaga?
Me encontra
um vento que me apresse
o aperto
de senti-la
viva 
falada: cravada.

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segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Inverno

A cadeira e à espera
atrás uma janela
azul, a lua
dá linha,
a chuva toca a rua
a partitura de uma
valsa

De um palmo sem vidro
no espaço o vento invade
o hall, e a pele
minha,
esfria como sopa
que mãe sopra em
colherinha.

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