terça-feira, 27 de outubro de 2009

Aleluias

Um riso qualquer
numa mesa de bar
ao lado do metrô
(imagine um Terraço do Café em Arles
ou um boteco na Ouvidor)
Levantou-se a espantar
os bichinhos de luz
voavam em círculos
a nossa visão
pincelando as asas na exatidão
do azul do céu
do amarelo da lâmpada
(indelicadas!)
Abriu bem os braços
fingiu-se de bravo
bateu as palmas das mãos quatro vezes:
— Agarrava a noite
que pra mim era só dele
(perdoem-me os bichinhos)

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segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Ardósia

Sobre as ondas verdes
desdobra a enseada
escura planície
se bem esfregada
como espelho d'água
no anoitecer
A gente dançava
a gente dançava
a gente chorava quando o pai partia
olvidando rastros da sola na cera:
marcas de um balé aquático.
A gente brincava,
a gente aprontava
no solo que acelerava as esferas
réplicas de entranhas das serras
de Minas na sala, para transeuntes
dominicais
pela dimensão dura e fria
da existência
que a gente driblava
feito uma família
quando se encontrava
no redor da mesa ―
marco na superfície
do nosso mar
de ardósia.


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