quarta-feira, 11 de junho de 2008

Dúvida

Pausar assim em suspense
A vida –
Sem graça quando se espera.
A vida que se desespera
não sabe
se vai, se volta,
a vida
em compasso de guerra.

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Cântico

Véu, como se nuvens
na retina atormentada.
As vozes se amargam feito dores.
Íris tremeluz ao seu luar desconsagrado.
Os olhos se alagam feito pântanos.

Céus, passeiam musas,
no altar, anunciado,
as vulvas se murcham.
feito flores.

Ventre que seduz:
O meu lugar,
atropelado.
Os corpos se azedam como rícino.

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Tarde

Teias de seda no varal
tão finas,
as formas mudam com o vento errático.
Amor que nos vestiu revolve
à sina,
idéias bailam no espaço utópico.

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Distância do tempo

O tempo pesa e não passa.
O tempo me amarra em tentáculos.
Rasga os olhos, arranha os ouvidos
soca o peito e adormece o músculo das pernas.
O tempo revolve os pesares.

Desfaz o ventre lentamente como se tivesse um fio solto.
Retira tripa por tripa e as prende com alfinetes.
Em sua bacia, o tempo
nina o pensamento
feito berço de criança sem pai.

A batida ranhida do tempo traduz em medida:
curta-infinita,
distância que nos separa.

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Marcas (da morte e da vida)

Cada ruga, um diploma
O caçador cada presa
um traço na coronha
O matador um risco no cabo
a cada furo de entranha
Palma da mão
cada linha, leitura de cigana



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