segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O pombo

O pombo na rua morto
sem sangue nem tripa e nem
sinais de como se morre:
o olhar vazio, um suspiro

Se morto sem nada disso
ou cheiro, sujeira e pio
O pombo na rua torto
não fosse ― estaria vivo

As penas desalinhadas
varetas brancas pousadas
no plano escuro do asfalto
que o carro passou por cima

A asa sai da cabeça
o bico marca a barriga 
triangular, laranja em
monocromático cubista

Cenário estampado ao léu
― sol no céu do Centro e o trânsito
O pássaro assassinado
sem perícia nem espanto  

nem atrapalhar o sábado.
Fosse barata ao avesso
eu até compreenderia
e ignorava  mas não esse.

E quando deus visse o quadro
que Justiça ele faria?
Um engenhoso milagre:
asa embaixo, bico em cima?

Ou compaixão lhe faltasse
as penas eu guardaria
pra enfeitar asas de anjo
na coroação de Maria.


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