Metamorfose

As pernas
no chão do chuveiro
estiradas pro lado
― parecem de aranha
a água desbrava caminhos na pele as gotas
me invadem de protuberâncias
a coxa,
Me imagino verde, um lagarto
de áspera casca empolada
diagrama
de pelanca dura,
que é fria que aguenta
contenção da carne
e a dor conterrânea
Movendo-se o corpo do meu ser-lagarto,
um espasmo:
o couro líquido balança ―
o arrasto com um gesto
da mão sobre a perna,
num ímpeto mutante,
― E eis-me, subcutânea


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Helmut

Ornado em seu claustro

fundo Helmut

não notou:

o caldo de cana na feira

o pastel o álbum

a flor a rua enfeitada

as bandeiras amarelas

pra Copa do Mundo...

e a vida passou.

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Movimento

Adejar no céu embaralhando

pássaros

crina esparavel em violinos

lúbricos

orquestra de Dresden transbordando

Brahms

caleidoscópios e amantes

ímãs

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Canários

Em folhas rabiscadas
no ar em Viçosa brincavam
penas banhadas
em marca-texto

num verde-amarelo tão brilhante
que tudo o que é mais
vira um mesmo
voando sem gravidade
replicando estrelas


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