sábado, 25 de outubro de 2008

Estridência

Faz barulho em minha mente
gritam loucuras por dentro
― carroça com roda rachada
roçando paralelepípedo

Tem uma inquieta gastura
― no atrito dos olhos no tampo da testa
O tom de uma voz indigesta
que engasga a garganta
feito bala dura.

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quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Suicídio

Madrugada e o Pão de Açúcar
mais negro que o céu
na Baía de Guanabara
e ao redor da água escura, pintada
de brilho amarelo em luz torta
os homens circulam como deuses
farfantes
― diários de Ares na aorta ―
e eu, me atiro do vigésimo oitavo
no vazio da palavra,
morta.

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domingo, 12 de outubro de 2008

Perda

Eu vejo o mundo se acabar
quando em silêncio cansado
seus olhos se abrem à minha frente.

Espelham mágoas que perduram
feito as folhas molhadas
encravadas no marrom da sua íris.

Eu anoiteço --
seus cílios, compridos, pesados,
oscilam, insistentes, feito arados

Lavrando o solo impenetrável
das lembranças vermelhas
do outono que enterrou a nossa vida.

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